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23 de dezembro de 2010

A matemática do Crack


Tô certo de que você já conhece uma droga chamada Crack, mas vamos fazer um exercício pra ficarmos mais íntimo dela. Vamo lá... o crack leva 15 segundos para chegar ao cérebro, é uma droga que vicia muito rápido e, na maioria dos casos, basta usar 2 vezes para sentir abstinência. Causa uma euforia que dura entre 10 e 15 minutos, depois uma depressão profunda e necessidade de nova dosagem. 90% dos usuários que tenta parar tem uma recaída e apenas 30% consegue abandonar o vício. Estima-se que existam mais de 1 milhão de viciados em crack no Brasil, até ano passado eram 600 mil, no próximo ano aproximadamente 300 mil jovens irão morrer vítimas da droga. Calma, ainda tem mais números. Te dou uns 10 segundos pra você curar o tilt na mente e respirar pra continuar, vamo lá. Dos 5563 municípios brasileiros, em pelo menos 3900 existem consumo de crack. Tá assustado? Eu também.

Vamos aos números de Goiás. Dono de uma capital ''sem favelas'', da melhor qualidade de vida, de uma polícia ''dura'', o Estado está entre os 12 mais ricos do Brasil. Contudo, dos 246 municípios goianos, 184 convivem com o consumo de crack, 49% dizem não ter nenhum projeto de prevenção às drogas, 50,49 % afirmam realizar ações contra o crack, mas sem de fato existir um programa de combate, ou seja, um migué né! Onze destes municípios possuem CAPS (Centro de Apoio Psicossocial), apenas dois na Capital, e ao todo são 85 profissionais dedicados a este combate. Pouco? Ridículo! Se a gente dividir igualmente um milhão de usuários por 27 estados, teremos mais ou menos 37.037 viciados em crack só em Goiás. Mas vamos ser brandos, imagine se destes apenas 15 mil estejam em terras goianas, é metade do estádio Serra Dourada cheio de zumbis. 

Da última vez que pesquisei, e faz tempo, o Crack movimentava mais R$ de 2,5 bilhões em dinheiro por ano, negócio lucrativo, popular, "necessário" e relativamente de baixo custo para os ''fabricantes''. Desse jeito já podemos incluir as drogas, em especial o crack, na pirâmide de maslow como uma necessidade fisiológica do homem. Segundo 86 dessas cidades goianas as ações não existem porque não recebem dinheiro da União para combater as drogas, como se fosse um simples problema de infraestrutura que pode esperar um pouquinho, anos talvez.

E ainda assim a Secretaria Municipal de Saúde diz que tem feito sua parte e que existem 0,4  Caps por 100 mil habitantes, nossa que bom né? Se cada casa conseguir curar 100 viciados (o que seria um número incrível) só faltam 14.900 viciados. Estamos chegando lá! Mas não é só o município que esta "dedicado", a Secretaria Estadual de Saúde, pasmem, através da gestão de ações integradas, diz que criar programas de combate ao crack é de responsabilidade do município. Massa hein! Minha pergunta é se o Governo Federal oferecer um vultuoso recurso de combate ao crack para os Estados, alguém vai dizer que não quer porque é de responsabilidade dos municípios?

Não podemos esquecer que estamos falando da pior epidemia de consumo de drogas no mundo inteiro, a droga de destruição em massa mais devastadora do planeta, associado ao empreendimento mais veloz do que qualquer outro, o tráfico. Será que estamos na velocidade certa? Não seria melhor prevenir, dar cultura, educação, cidadania, condições de vida para que nosso povo tenha uma opção mais feliz para seu destino? Parece tão obvio, mas até hoje a PREVENÇÃO é ignorada, uma das coisas mais eficiente e barata.

O crack é tão destruidor que existe uma lenda que diz que traficantes do Rio de Janeiro evitavam que o crack chegasse lá porque gerava caos, roubos, pequenos assaltos, matava rápido demais, chamava a demasiada atenção. Nem traficante morre de amores pelo crack, verdade ou não, louco isso, concorda? É uma droga muito democrática, pega pobre, miserável, rico, classe média, mas claro, os lascados sempre morrem primeiro, entregues à sorte e aos grupos de extermínio.

Vamos fazer o seguinte amigos, vou mandar o meu recado no twitter para os prefeitos de Goiânia e Aparecida, e também para nosso governador. Façam o mesmo com sua cidade, vamos fazer isso juntos, nos colocando à disposiçao para ajudar, porque não queremos carregar o peso na consciência de tê-los deixado sozinhos e desatentos quanto ao monstro que vai matar pelo menos alguém de nossa família na próxima decada. Vou postar assim: "Sr. Prefeito, Sr. Governador, gostaria de me colocar à disposição na luta contra a morte da minha e da sua família, por conta do terror chamado CRACK".
Dyskreto é rapper, ativista cultural e coordenador da Central Única das Favelas de Goiás  (www.twitter.com/Dyskreto)
*Artigo publicado no DM Revista do jornal Diário da Manhã, edição de quinta-feira, 16 de dezembro de 2010.

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