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27 de janeiro de 2011

Quer feijoada? Traz o feijão que eu levo o samba, firmeza?!

É notado, imagino, e tomara que eu esteja certo, que a Favela ou o nome que você prefira, periferia, comunidade em desvantagem social, seja lá qual for o nome, quer poder. Mas não estamos falando do poder simplesmente pelo poder, como buscam muitos burocratas, políticos, magnatas, mega empresários. Estou falando do poder de poder fazer. Ou seja, poder oferecer escola boa pro filho, poder ter casa própria, poder reformar a casa, poder ter um plano de saúde, poder ter um carro, eletrodomésticos, poder viajar nas férias, poder comprar roupa boa, comer bem, cuidar da mãe e do pai na terceira idade, ir para o estádio, essas coisas que para muitos são tão simples que até se indignam quando falamos que isso é luxo e sonho na terra dos pobres.

Mas peraí, estamos falando do básico! Saúde, segurança, emprego, lazer e educação em prol da família. Nem estamos falando de ter a própria empresa, de comprar uma moto bacana, de pagar um curso de inglês pra molecada, de dar um silicone pra patroa, de comprar um aeromodelo. Por quê? Pobre não pode querer isso não? Se você esté indignado em saber que queremos isso e muito mais, sua indignação me assusta profundamente.

Acontece o seguinte, que a gente tá tão lascado que nossa própria mente não permite esses sonhos e o pior, muita gente rica reforça esse pensamento e replica, como se nos tivéssemos mesmo que nos contentar com o Prouni (que é muito bom, diga-se de passagem), com a grana pouca, com casa velha, carro velho, filho com roupa velha, com alma velha. E no Natal ganhar cesta básica e viver o espírito da fraternidade. E depois que todos vão embora? Quem fica lá pra ver o bicho pegando?

Então cheguei a conclusão de que “é nós por nós” no primeiro passo. Libertar a mente da prisão da miséria é tarefa nossa, porque é improvável, não digo impossível, que alguém que já tá bacaninha, com sua carreira de sucesso, vá parar para ensinar isso voluntariamente pra quem tá aqui pegando busão. Sejamos francos, em âmbito geral, a sociedade faz isso? Alguém que cê conhece faz isso engajado? Não tô falando que tão errados não, nem tô falando que não exista gente muito boa querendo ajudar. Tem e muita. Só que vamos estabelecer uns critérios, vou até parafrasear meu amigo Celso Athayde em alguns pontos, pensem comigo:
Como alguém quer ajudar a favela escrevendo um livro ou fazendo uma matéria sobre ela sem se envolver, achando que isso já é o máximo, e ainda, se nem mora nela ou circula por ela? Como alguém quer mudar a favela levando uma ideia de um projeto muito bacana, escrevendo, botando em edital, captando e botando a própria favela de coadjuvante da nossa própria historia? Desculpe galerinha bem intencionada, não subestimem nossa capacidade. Ideia boa nós temos também, é deselegante agir como se fôssemos atrasadinhos e no asfalto tivesse só gente de mente iluminada que está doando um quinhão da sua genialidade, teorizando sobre o que já sabemos de cor por aqui.

Não vejam pelo lado ruim, mas é que tem muita gente que vem falar comigo sobre crack, sobre violência policial, sobre tráfico, sobre moradia precária como se isso tudo fosse novidade pra mim e como se tivessem achado a formula mágica da paz para as periferias e favelas (tô falando favela já para irem se acostumando) e precisa de nós para chegar lá. Na boa, não vou de carona no meu próprio fusca não. Quem tá lá vendo moleque, mãe grávida, pai de família fumando crack sou eu. Quem tá lá vendo a polícia imitando o Capitão Nascimento sou eu. E na hora que a festa acabar, que o palco for desmontado e todo mundo se for, quem vai ter que responder para a comunidade para onde foi todo mundo sou eu.

Então se a gente é camarada e vai dividir esforços pra comer uma feijoada no meu barraco, vamos dividir assim: você leva os ingredientes e eu entro com o tempero da mãe preta e o samba. E sai tudo certo. Belezinha? E aí, você vai ter a melhor festa da sua vida. Ótima semana amigos!

Dyskreto é rapper, ativista cultural e coordenador da Central Única das Favelas de Goiás (www.twitter.com/Dyskreto)

*Artigo publicado no DM Revista do jornal Diário da Manhã, edição de quinta-feira, 27 de janeiro de 2011.

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