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28 de abril de 2011

As torcidas matam!

Na última segunda eu assisti uma matéria nacional em várias emissoras de TV, mostrando imagens captadas em Goiânia de um sistema de segurança onde dezenas de jovens das torcidas organizadas de Goiás e Vila Nova invadiram e destruíram uma farmácia em meio a uma guerra entre eles. Absolutamente deprimente! Fiquei imediatamente aborrecido, mas nem um pouco surpreso, porque sinceramente já vi coisas que vocês duvidariam se eu escrevesse aqui, me chamariam de exagerado, mas uma imagem fala mais que mil palavras. E pra você que viu também essas imagens, duvida que aconteça algo muito pior? Sei que não.

Se por força de mágica pudéssemos ver tudo que envolve um clássico desses como Goiás e Vila Nova no quesito violência na cidade, tomaríamos nojo de futebol, esporte que eu amo acompanhar! É ônibus quebrado, invadido, cidadão assaltado, senhoras idosas e crianças em pânico nos terminais, espancamentos inúmeros, fabricação de bombas caseiras, armas escondidas, palavras de ordem cantadas glorificando a violência, 1001 traumas sociais gerados em milhares de cidadãos. Um inferno!

É preciso repensar se o espetáculo das torcidas, que é lindo, vale o prejuízo social que causa a uma cidade, a um país. E elas não podem ser pretexto para justificar gangues, alegando que aquilo é uma celebração do esporte, que é sinônimo de saúde. Não! A maioria desses fanáticos nem assiste ao jogo, fica prestando atenção em si, nos colegas de torcida, na outra torcida, na polícia, nas gatinhas de shortinho. Quanto ingrediente perigoso junto!

Comecei a refletir como sempre tento, sem a revolta óbvia que sentimos quando vemos algo desse tipo. Porque alguém perde os sentidos e se transforma em um animal quando esta dentro de uma torcida organizada? Qual o objetivo básico de destruir alguém que usa uma cor diferente da sua e te torna irmão daquele que usa a mesma cor que você? Torna-se santo com uma cor e diabo com outra? Louco demais, estupidez demais!

Percebi que uma torcida oferece é uma identidade a um jovem que na maioria das vezes não tem uma, não admira um pai, não vê a policia como segurança, mas sim como ameaça, não gosta da escola e não se sente representado por ela. Toda pessoa, e claro, todo jovem quer ser protagonista, ninguém quer ser coadjuvante, então uma torcida oferece uma fugaz sensação de poder, uma sensação de pertencimento, algum lugar onde se é aceito. Mas boa parte desses mesmos garotos são cabisbaixos e introvertidos quando vão fazer uma entrevista de emprego, acuados quando vão apresentar um trabalho de escola, despreparados quando são abordados pela polícia e são “corajosos” quando uma torcida, que muitos classificam como gangue lhes dá uma bandeira e palavras de ordem.

O agravante é a sensação de impunidade em meio a multidão, onde ali é permitido extravasar a violência, sem culpa, como aquela de extravasar a libido e o erotismo no carnaval sem qualquer culpa, como consumir no Natal sem culpa, como se entupir de chocolate na Páscoa sem culpa. O mundo é cheio desses momentos. Mas existir o momento de enfiar a porrada? Momento de jogar bombas? Momento de andar em bando e espancar covardemente uma pessoa sozinha? Matar alguém e sair voado no meio do formigueiro? Cara, têm coisas que devem ter limites. Agora me respondam: se não conseguimos segurar umas centenas de meninos entre 14 e 25 anos, tocando o terror nas nossas cidades, vamos conseguir segurar milhares de loucos como os holligans europeus na copa do mundo? Não se esqueça, as torcidas matam!

(Dyskreto é rapper, ativista cultural e coordenador da Central Única das Favelas de Goiás (www.twitter.com/Dyskreto)

*Artigo publicado no DM Revista, do jornal Diário da Manhã, edição de quinta-feira, 28 de abril de 2011.

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